Greenpeace denuncia que o novo objetivo climático da União Europeia para 2040 fica aquém e manipula os números
Lisboa, 3 de julho de 2025 – A Greenpeace alerta que a proposta apresentada hoje pela Comissão Europeia para reduzir as emissões poluentes até 2040 não está à altura da emergência climática. Embora, no papel, se fale numa redução de 90% das emissões líquidas de carbono, a organização denuncia que este objetivo não cumpre as recomendações científicas e abre a porta a manobras que permitem à UE poluir mais do que aquilo que realmente foi acordado.
A proposta de Bruxelas inclui uma cláusula que permite compensar até 3% das emissões pagando a países fora da União Europeia, para que estes reduzam as suas próprias emissões em vez de o fazer dentro da própria UE. Para a Greenpeace, isto é uma armadilha perigosa que atrasa o abandono dos combustíveis fósseis e transfere para terceiros uma responsabilidade que cabe à Europa assumir.
“O clima não espera. A Europa já está a sentir os impactos da crise climática: ondas de calor extremas, incêndios, tempestades ou inundações como a mais recente DANA em Valência. A população está a pagar o preço por uma redução de emissões que anda a passo de caracol”, afirmou Thomas Gelin, responsável pela campanha climática da Greenpeace para a União Europeia.
O próprio Conselho Científico Assessor da UE sobre o Clima recomendou um objetivo de redução líquida entre 90% e 95% até 2040, deixando claro que seria possível alcançar essa meta dentro do território europeu. De facto, a Greenpeace já demonstrou num estudo recente que, para cumprir os compromissos internacionais e evitar um aquecimento catastrófico, a UE deve atingir emissões líquidas nulas, o mais tardar em 2040.
Além de ficar aquém dos 90%, a proposta da Comissão oferece vários mecanismos de flexibilidade que permitem aos Estados-membros contornar os cortes reais: desde o uso de créditos internacionais até à priorização de critérios económicos como a competitividade ou o investimento – acima da urgência ambiental.
“Pagar a outros países para reduzirem emissões em teu nome não é liderança climática, é adiar o problema. Enquanto isso, famílias e empresas europeias ficam sem os benefícios de abandonar os combustíveis fósseis: ar mais limpo, energia mais barata, menos catástrofes climáticas e transportes públicos mais eficientes”, denunciou Pedro Zorrilla Miras, responsável da Campanha de Alterações Climáticas da Greenpeace.
Apesar das críticas, a Greenpeace reconhece que algumas das 18 medidas propostas pela Comissão – como incorporar conhecimento científico atualizado, avaliar o custo da inação ou proteger a biodiversidade – representam uma oportunidade para reforçar a ambição climática através da futura legislação.
Contudo, a organização alerta que esses pontos positivos estarão na mira de setores que querem travar a ação climática, como a indústria do carvão, petróleo e gás.
“Se a Comissão quer realmente mostrar que a Europa está preparada para uma redução de 90%, tem de garantir que esse número é verdadeiro e que se traduz em políticas ambiciosas – e não em truques de contabilidade. Os mecanismos de flexibilidade são opcionais, o Governo não é obrigado a usá-los. Aliás, perante os múltiplos benefícios que a ação climática já trouxe a Espanha, os compromissos do Executivo devem ser mais ambiciosos do que os mínimos assinados em Bruxelas”, conclui Zorrilla.