Greenpeace revela: substâncias químicas perigosas na roupa da Shein continuam a violar as normas da União Europeia
Greenpeace analisa roupa da Shein e os dados pioram: é muito mais poluente e perigosa do que permite a UE
- Um terço da roupa analisada pela organização incluindo peças infantis contém substâncias químicas perigosas que superam os limites estabelecidos pelo Regulamento Europeu de Substâncias Químicas (REACH)
- Uma das peças analisadas em Portugal supera 55 vezes os níveis permitidos de ftalatos, compostos perigosos e perturbadores endócrinos, relacionados com alterações hormonais e do desenvolvimento das crianças, algumas doenças crónicas e problemas de fertilidade.
- A Black Friday e outras datas de compras massivas destroem habitats, geram mais emissões de gases com efeito de estufa e grande quantidade de resíduos
- A Greenpeace exige uma lei eficaz para travar este vazio legal e perigoso, com medidas como um imposto, sobre a moda rápida promover uma verdadeira economia têxtil circular e proibir a publicidade da “fast fashion”
Lisboa, 20 de novembro de 2025 – A Greenpeace publica hoje uma nova investigação que demonstra que a roupa da Shein, o maior site de moda online do mundo, continua a conter substâncias químicas perigosas. Depois de denunciar práticas semelhantes em 2022, a organização analisou várias peças de roupa adquiridas na loja online e numa loja pop up (incluindo roupa infantil) e a análise mostra que do total das 56 peças e sapatos analisados, 18 (cerca de 32%) continham substâncias químicas perigosas e que ultrapassam os limites estabelecidos de contaminantes permitidos pelo Regulamento Europeu de Substâncias Químicas (REACH).
Entre as peças adquiridas em Portugal, uma delas excede os limites da UE, ultrapassando em mais de 55 vezes, os níveis permitidos de ftalatos – compostos perigosos e perturbadores endócrinos, relacionados com alterações hormonais e do desenvolvimento das crianças, algumas doenças crónicas e problemas de fertilidade.

Tanto as pessoas que trabalham a confecionar estes artigos como o meio ambiente dos países produtores, são particularmente afetados. Mas quem veste roupa da Shein, aqui ou em qualquer lugar, também está exposto a estes produtos químicos através do contacto com a pele, principalmente pelo suor ou pela inalação de partículas. Incluindo absorver os tecidos pela boca, no caso das crianças mais pequenas. Quando as peças são lavadas ou deitadas fora, as substâncias chegam aos rios, ao solo e até à cadeia alimentar.
As análises da Greenpeace revelam que a Shein não cumpriu os compromissos que a própria empresa assumiu no passado, precisamente para tentar resolver questões semelhantes já denunciadas anteriormente.
- 18 das 56 peças (32%) superam os limites estabelecidos pelo regulamento REACH da UE incluindo roupa infantil (3 artigos)
- 7 peças (todas casacos) superam os limites de PFAS (substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas) até 3.300 vezes
- 14 peças excedem os limites para ftalatos e seis delas ultrapassam mais de 100 vezes
“As roupas desta ultra fast fashion parecem baratas, mas o verdadeiro preço paga-se com o planeta e com a nossa saúde. É nas alternativas como comprar menos, escolher melhor, reparar e reutilizar que está o caminho para um futuro seguro e mais sustentável. Para isso, temos uma petição onde apelamos às autoridades portuguesas que atuem para apoiar esta mudança, seguindo os exemplos internacionais já existentes. Encorajamos todas as pessoas a juntarem o seu nome a este apelo!”, reforça Ana Farias Fonseca, Coordenadora de Campanhas e Mobilização da Greenpeace Portugal.
Num estudo semelhante, realizado em 2022, a Greenpeace já tinha detetado substâncias perigosas em produtos da Shein, que superavam os limites legais da UE. A empresa retirou esses artigos e comprometeu-se a melhorar substancialmente a gestão de substâncias químicas na sua roupa. No entanto, a nova investigação demonstra que não cumpriu esses compromissos e que continua a pôr em risco a saúde das pessoas e do planeta. Para isso, a Shein aproveita certos vazios legais, como evitar controlos aduaneiros ao enviar diretamente ao comprador, permitindo vender roupa com estas substâncias perigosas.
“A Shein parece não se importar com o dano que pode causar. Nas novas análises reapareceram as mesmas substâncias perigosas que já tínhamos detetado anteriormente. Esta nova investigação põe em evidência que os compromissos voluntários da Shein não têm valor e que são necessárias leis contundentes que limitem a produção de roupa e que exijam responsabilidades aos fabricantes seguindo o exemplo da iniciativa francesa denominada ‘lei anti Shein’” conclui Sara del Río responsável de investigações da Greenpeace
Com 363 milhões de visitas mensais, Shein.com é hoje o site de moda mais visitado do mundo, atraindo mais tráfego do que a Nike, Myntra e H&M juntas. A sua agressiva estratégia de marketing, o uso de técnicas persuasivas na sua aplicação e a enorme presença em redes sociais, levam especialmente os jovens a um consumo desmedido. A aplicação usa técnicas de manipulação como descontos, falsos alertas de poucas unidades e temporizadores artificiais de compras, para gerar pressão artificial e impulsionar a compra. A plataforma oferece mais de meio milhão de designs, vinte vezes mais do que gigantes como a H&M. Nalguns dias podem lançar mais de 10.000 designs.
A Shein continua a crescer rapidamente no mercado internacional com receitas que aumentaram dos 23 mil milhões de dólares em 2022 para 38 mil milhões em 2024. Não só aumentaram os seus lucros como também as suas emissões, que se quadruplicaram nos últimos três anos. O modelo de negócio da Shein está assente na produção massiva de novos designs e no consumo excessivo de recursos, que estão a levar a moda rápida ao limite. Para além de outros problemas, como o caso descoberto recentemente em França de venda de bonecas sexualizadas para crianças, o que mostra a falta de controlo dos produtos que a plataforma comercializa.
O que pede a Greenpeace?
Mais uma vez, este estudo mostra que a autorregulação voluntária por parte das empresas não protege nem as pessoas nem o ambiente. Por isso a Greenpeace exige uma lei contra a moda rápida (fast fashion) inspirada na iniciativa francesa “lei anti Shein”, que poderia travar esta sobreprodução. A legislação deve introduzir um imposto sobre a moda rápida, promover uma verdadeira economia têxtil circular e proibir a publicidade da mesma, incluindo nas redes sociais. Estas medidas são necessárias para mitigar os impactos nocivos deste tipo de indústria.
Recursos
- Relatório completo AQUI
- Resumo executivo AQUI
- Acesso a imagens das peças analisadas AQUI
- Petição Shein AQUI
Contactos para OCS:
- Ana Farias Fonseca, Coordenadora de Campanhas e Mobilização da Greenpeace Portugal: 913 913 343
- Catarina Canelas, Coordenadora de Comunicação da Greenpeace Portugal: 913 913 323
- Sara del Río, Responsável de Investigações da Greenpeace: +34 626998243