A cimeira que deverá travar a crise do plástico
Julio Barea Luchena, Responsável de Campanhas de Biodiversidade da Greenpeace
De 5 a 14 de agosto de 2025, Genebra será o palco de uma das negociações ambientais mais relevantes do nosso tempo: a quinta ronda (INC‑5.2) para alcançar um Tratado Global dos Plásticos.
Esta é a cimeira que deverá travar a crise do plástico.
Uma oportunidade histórica
Esta é uma oportunidade única para que a comunidade internacional aprove um instrumento jurídico vinculativo que ataque de forma definitiva a poluição por plásticos.
A Greenpeace tem sido clara nas suas exigências: não basta melhorar a gestão de resíduos ou aumentar a reciclagem; é urgente reduzir a produção de plásticos na origem.
Esta poderá ser, talvez, a última grande oportunidade para o conseguir.
Reduzir a produção
A posição da Greenpeace é firme: o tratado deve abranger todo o ciclo de vida do plástico, começando com uma redução significativa e obrigatória da produção.
Segundo a nossa organização, mais de 90% do plástico no mundo é produzido a partir de combustíveis fósseis, tornando esta indústria um duplo inimigo do planeta: por um lado, pelas suas emissões poluentes; por outro, pelos impactos devastadores do plástico nos oceanos, na biodiversidade e na saúde humana (com evidências cada vez mais claras).A Greenpeace exige um tratado ambicioso, que inclua limites claros e mensuráveis à produção de plástico virgem, com enfoque na justiça ambiental e na economia circular.
Negociações bloqueadas e avanços
Nas rondas anteriores, as negociações ficaram bloqueadas por divisões entre países:
- Um bloco significativo de nações (junto da indústria petroquímica) procura manter uma abordagem voluntária centrada na gestão de resíduos;
- Outros, como Espanha e a União Europeia – apoiados por organizações como a Greenpeace – defendem metas obrigatórias para reduzir o plástico desde a sua origem.
Apesar destes desacordos, registaram‑se avanços importantes, como a inclusão do design de produtos reutilizáveis e a promoção de políticas nacionais para reduzir o plástico descartável.
A Greenpeace reconhece estes progressos, mas alerta: sem uma linguagem juridicamente vinculativa e metas claras de redução, o tratado corre o risco de se tornar numa ferramenta ineficaz.
As consequências de não agir
Se nada for feito, os impactos da produção crescente de plástico não se limitarão aos oceanos ou à cadeia alimentar e sentir‑se‑ão também no ar que respiramos.
O relatório Every Breath You Take da Greenpeace Internacional alerta que milhões de pessoas vivem perto de instalações petroquímicas ligadas à produção de plásticos, estando expostas diariamente a poluentes perigosos.
“Zonas de sacrifício“
Em 11 países estudados, mais de 51 milhões de pessoas vivem a menos de 10 km destas instalações, com riscos comprovados de doenças respiratórias, cancro e outras patologias graves.
Algumas regiões afetadas são maioritariamente comunidades marginalizadas, colocadas na linha da frente da poluição e da expansão industrial.
A urgência de um tratado forte
Os dados mostram que é vital criar um tratado robusto que não apenas reduza os resíduos plásticos, mas que interrompa a expansão da indústria petroquímica.
Se a produção não for limitada, continuarão a ser criados produtos de vida útil muito curta – como embalagens descartáveis ou moda rápida – que alimentam tanto a crise dos resíduos como a poluição do ar.
Justiça intergeracional
A Greenpeace exige que o tratado inclua uma redução mínima de 75% na produção de plásticos até 2040.
Proteger a saúde das comunidades, salvaguardar a integridade do planeta e garantir justiça intergeracional são decisões que precisam de ser tomadas já e Genebra é o lugar onde isso deve começar.
Para a Greenpeace, esta cimeira não pode transformar‑se em mais um encontro de compromissos brandos e acordos diluídos pela pressão das grandes indústrias.
Por isso, a organização lançou campanhas globais para exigir aos líderes que atuem com responsabilidade e coragem.
Desde ações de pressão cidadã até à presença direta nas negociações em Genebra, a Greenpeace está empenhada em garantir que o resultado final seja um tratado forte, ambicioso e justo.