Entrada de blog por Catarina Canelas - Novembro 3, 2025


A COP30 está a chegar: 5 coisas que precisas de saber sobre as COPs

Para muita gente, as COPs soam a discursos intermináveis e sessões de fotografia – e às vezes é mesmo isso.

Mas as Conferências das Partes são também uma das principais ferramentas que temos para enfrentar, juntos, a crise climática.

Com a COP30 prestes a realizar-se em Belém, na Amazónia, eis cinco coisas essenciais que deves saber.

1. O que é uma COP?

“COP” significa Conferência das Partes, o encontro anual das Nações Unidas sobre o clima, criado ao abrigo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC) o tratado internacional estabelecido em 1992.

Atualmente, 198 países participam na UNFCCC, tornando-a um dos maiores organismos multilaterais do sistema da ONU.

É nas COPs que os países se reúnem para negociar como limitar o aquecimento global, reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e apoiar comunidades afetadas pelos impactos climáticos.

Dentro de uma COP encontras líderes mundiais, negociadores governamentais, cientistas, líderes indígenas, jovens ativistas, jornalistas e, sim, também lobistas.

É um processo complicado, confuso e por vezes frustrante.

Mas não há outro fórum global onde as nações mais pequenas e as maiores economias do mundo se sentem à mesma mesa para tentar chegar a acordos.

Pensa numa COP como num grande trabalho de grupo global: nem todos fazem os deveres, alguns tentam até sabotar o processo, mas precisamos de todos para que o planeta “passe no exame”.

2. Porque é que as COPs são cruciais para encontrar soluções globais

O caos climático não conhece fronteiras.

As secas numa região fazem disparar os preços dos alimentos noutra.

O degelo dos Himalaias ameaça comunidades a milhares de quilómetros.

E as ondas de calor no Sul da Ásia matam pessoas que pouco contribuíram para esta crise.

É por isso que as COPs existem: são o único espaço onde os governos podem cooperar, em teoria, para resolver um problema que nenhum país consegue resolver sozinho.

“Multilateralismo” pode parecer uma palavra difícil, mas significa apenas trabalhar em conjunto.

E quando o tema é o clima, os problemas globais precisam de soluções globais.

Sem as COPs, a alternativa seria cada país agir por conta própria em plena emergência planetária — e já vimos o quão perigoso isso pode ser.

3. O que é que as COPs conseguiram até agora

É fácil ser cínico, mas a história mostra que as COPs funcionam quando existe pressão pública.

  • COP21 (Paris, 2015): nasceu o Acordo de Paris. Os governos comprometeram-se a manter o aquecimento global “bem abaixo dos 2°C” e a tentar limitá-lo a 1,5°C. Imperfeito, mas foi um ponto de viragem.
  • COP27 (Sharm el-Sheikh, 2022): foi criado o Fundo de Perdas e Danos, um mecanismo histórico para apoiar os países mais vulneráveis aos desastres climáticos – resultado de décadas de luta.
  • COP28 (Dubai, 2023): pela primeira vez, uma decisão oficial da COP nomeou os combustíveis fósseis como a raiz da crise climática. Foi um marco histórico, embora a Greenpeace tenha alertado: “Agora os líderes têm de se comprometer com uma eliminação total, rápida, justa e financiada dos combustíveis fósseis.”
  • COP29 (Baku, 2024): o tema dominante foi o financiamento climático. Houve promessas de novos fundos, mas a Greenpeace considerou o resultado muito aquém das necessidades reais.

Nenhuma destas vitórias aconteceu por acaso.

Vieram do poder das pessoas: da liderança indígena, dos países vulneráveis que se recusam a ficar em silêncio, dos ativistas que continuam a pressionar e dos milhões que exigem ação.

4. COPs, lobistas e o poder das pessoas

Sejamos francos: as COPs são muitas vezes criticadas por se transformarem em palcos dominados por lobistas corporativos, que superam em número as delegações dos países mais vulneráveis ao clima.

Na COP28, por exemplo, os lobistas da indústria fóssil ultrapassaram quase todas as delegações nacionais.

Também estiveram presentes empresas de carne e laticínios, a defender a agropecuária intensiva.

É por isso que a sociedade civil, os Povos Indígenas, os jovens e os ativistas têm de estar dentro das negociações — para responsabilizar governos, denunciar o greenwashing e amplificar vozes que tantas vezes são ignoradas.

A Greenpeace participa nas COPs não porque acredite que os políticos vão, de repente, salvar o planeta, mas porque sem pressão constante o progresso é ainda menos provável.

A mudança acontece quando as pessoas se unem e agem.

5. Um dado que mostra porque as COPs continuam essenciais

Um número impressionante:

Segundo a ONU, os compromissos climáticos atuais dos países ainda nos colocam numa trajetória de aquecimento global até 3,1°C neste século.

Para cumprir o limite de 1,5°C, os países precisam implementar e reforçar as suas metas, reduzindo as emissões em cerca de 43% até 2030 em comparação com os níveis de 2019 e ir ainda mais longe até 2035.

Essa é a diferença entre o colapso generalizado dos ecossistemas e uma última hipótese de estabilizar o clima.

É o que mostra porque as COPs continuam indispensáveis: as decisões tomadas nelas podem literalmente acrescentar ou remover gigatoneladas de poluição de carbono da atmosfera.

A diferença é vital para milhões de pessoas, para as florestas, para a biodiversidade e para todas as gerações futuras.

Porque a COP30 é decisiva

A COP30, que se realiza este ano em Belém, no Brasil, às portas da Amazónia, tem um simbolismo imenso.

A Amazónia é o lar de uma biodiversidade extraordinária e de milhões de pessoas, incluindo muitas comunidades indígenas.

É também um dos maiores reservatórios de carbono do planeta, que absorve milhões de toneladas de CO₂ por ano.

Mas os cientistas alertam: a floresta está perto de um ponto de rutura, onde pode começar a libertar mais carbono do que aquele que armazena.

A COP30 acontece também dez anos após o Acordo de Paris — um momento crucial para avaliar progressos e exigir compromissos climáticos mais fortes, alinhados com o limite de 1,5°C.

Em linguagem simples: este é o ano em que os líderes precisam de cumprir o que prometeram em Paris.

As apostas não podiam ser mais altas.

A COP30 é o momento para mostrar coragem em vez de falhar.

É hora de passar das negociações à ação.

E embora a desconfiança seja compreensível, a esperança é essencial.

A mudança não vem apenas dos líderes — vem das pessoas: nas ruas, nas urnas, nas florestas, nas comunidades.

De quem continua a marchar, proteger, denunciar e sonhar com justiça climática.

Medhi Leman

Editor de Conteúdos da Greenpeace

#COP30 #AMAZÓNIA #CLIMA

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