Entrada de blog por Catarina Canelas - Novembro 4, 2025


Céus Tóxicos: A Amazónia Está Agora a Respirar um Ar Mais Poluído do que as Maiores Cidades do Mundo

Os céus da Amazónia estão a tornar-se tóxicos. Os incêndios acesos para expandir e renovar pastagens de gado estão a envenenar o ar e a alimentar a crise climática. À medida que os líderes mundiais se preparam para a COP30, é tempo de nos colocarmos ao lado da floresta e do seu povo.

Um novo relatório internacional da Greenpeace, Céus Tóxicos: Como o Agronegócio Está a Asfixiar a Amazónia e revela como os incêndios ligados à agricultura industrial estão a transformar o ar da floresta em algo tóxico durante a estação seca.

As conclusões são um alerta severo: a crise amazónica não diz respeito apenas às árvores — é também sobre o ar que milhões de pessoas respiram e sobre a saúde do nosso planeta comum.

Quando o sol nasce sobre Porto Velho, na orla da Amazónia brasileira, não atravessa o nevoeiro. Luta contra o fumo. Durante meses todos os anos, o ar enche-se da névoa provocada por incêndios acesos deliberadamente para limpar floresta para o gado ou renovar pastagens. O que já foi o ecossistema mais verde do planeta respira agora ar contaminado com níveis de partículas tóxicas superiores aos de Pequim, São Paulo ou Santiago, segundo o relatório.

O que o estudo descobriu

  • Durante a época recorde de incêndios de 2024, os níveis de partículas finas (PM2.5) excederam as diretrizes diárias da OMS em mais de 20 vezes.
  • Mesmo em 2025, um ano com muito menos incêndios, o ar continuou seis vezes acima do limite recomendado.
  • Entre 2019 e 2024, a poluição anual média do ar em Porto Velho foi superior à das grandes megacidades globais, impulsionada por aumentos acentuados de PM2.5 durante a época de incêndios.
  • Cerca de 75% das áreas queimadas em torno de Porto Velho em 2024 foram usadas como pasto para a pecuária, mostrando que a maioria dos incêndios está ligada à criação de gado.
  • Mais de metade da área total queimada em 2024 no bioma amazónico situava-se a menos de 360 km das instalações do maior matadouro do Brasil, a JBS. Empresas como a JBS não proíbem nem controlam eficazmente o uso deliberado do fogo nas suas cadeias de fornecimento, deixando os matadouros expostos ao risco de ligações diretas ou indiretas com queimadas.

Isto não é um desastre natural.

É um modelo de negócio que lucra com a destruição e o sofrimento público.

Descarrega o relatório completo “Toxic Skies: How Agribusiness Is Choking the Amazon.”

Respirar em plena crise

Durante a estação seca, o ar torna-se espesso de fumo. Mesmo quando o fogo está longe, o fumo chega. Causando dores de garganta, tosse constante, olhos irritados. Afeta toda a gente.

Para pessoas como Hilda Barabadá Karitiana, do Território Indígena Karitiana, perto de Porto Velho, o fumo não é apenas um incómodo sazonal — é uma emergência de saúde pública.

A exposição prolongada a níveis elevados de PM2.5 causa infeções respiratórias, doenças cardíacas e asma, especialmente em crianças e idosos. O próprio ar tornou-se um agente de crise.

Desmascarar mitos

✗ Os incêndios na Amazónia ocorrem naturalmente e são benéficos para o ecossistema.

✓ Os incêndios na Amazónia são causados por atividade humana e são altamente destrutivos para o ecossistema tropical.

✗ Os incêndios na Amazónia acontecem devido à exploração madeireira.

✓ Grandes áreas do bioma amazónico são incendiadas para abrir espaço à pecuária.

Um ponto de viragem antes da COP30

A COP30 deste ano, organizada em Belém, será a primeira Cimeira do Clima da ONU realizada dentro de uma floresta tropical.

É uma oportunidade para colocar as vozes amazónicas e a qualidade do ar no centro das negociações climáticas globais e exigir ação de governos e empresas.

O chefe Zé Bajaga, do Território Indígena Caituíu, afirma:

“Aqui na Amazónia enfrentamos invasões, incêndios e poluição de empresas que lucram enquanto a nossa terra arde.

Os que destroem por dinheiro devem ser responsabilizados.”

O que precisa de acontecer agora

Os líderes mundiais precisam de agir e:

  • A COP30 deve definir um plano de ação para implementar o objetivo de 2030 da UNFCCC de travar e inverter a desflorestação e degradação das florestas do mundo. É hora de converter compromissos em ação.
  • Os governos devem regular urgentemente os setores agrícola e financeiro, alinhando-os com o Acordo de Paris, o Quadro Global de Biodiversidade e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
  • Os governos devem garantir uma transição para sistemas alimentares verdadeiramente ecológicos e justos, com fim à desflorestação e redução das emissões associadas à agricultura, incluindo o metano.
  • Os líderes mundiais devem assegurar financiamento real para proteger e restaurar as florestas, apoiando diretamente os Povos Indígenas e as Comunidades Locais.

Os céus tóxicos da Amazónia não são inevitáveis.

São produto de decisões políticas e económicas baseadas na ganância.

Enquanto os líderes mundiais se preparam para a COP30, este é o momento de agir.

👉 Junta-te ao movimento. Assina a petição e apela aos líderes mundiais na COP30 para que respeitem a Amazónia e o seu povo.

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