Incêndios florestais: por que acontecem e como se evitam
Nanqui Soto, Responsável pelas campanhas de Florestas, Empresas e Direitos Humanos na Greenpeace
Uma vez acesa a chama, ativa-se o “cocktail explosivo”
A cada temporada, os incêndios tornam-se mais vorazes, avançam com uma rapidez incontrolável e colocam à prova até os meios mais preparados.
A lição é clara: não basta multiplicar os meios de extinção, é preciso apostar na prevenção e na gestão do território, tornando as paisagens agrícolas, florestais e pecuárias mais resilientes face aos novos cenários climáticos.
Porque ardem as paisagens florestais?
A explicação não é simples. Há territórios com climas e vegetação muito diversos. Os incêndios resultam da combinação de cinco fatores fundamentais:
- O abandono do mundo rural e da atividade ligada ao território;
- As alterações climáticas;
- O corte ou falta de investimento no setor florestal;
- A expansão de zonas habitacionais junto a áreas de risco (a chamada “interface urbano-florestal”);
- O uso e a intencionalidade humana no fogo.
• Êxodo rural: paisagens vulneráveis
O abandono progressivo das práticas agrícolas e silvopastoris deixou grandes áreas do interior desertas. Propriedades deixaram de ser cuidadas e transformaram-se em paisagens altamente inflamáveis.
• Alterações climáticas: não originam incêndios, mas agravam-nos
Secas frequentes, aumento da temperatura média e ondas de calor mais intensas tornam os incêndios mais prováveis, mais rápidos e mais difíceis de controlar.
• Cortes no setor florestal
A redução nos orçamentos enfraqueceu a capacidade de prevenção e resposta.
• Urbanização crescente
A expansão de habitações, estradas e infraestruturas junto à floresta cria zonas de risco extremo.
• Causas humanas diretas
Negligências e acidentes (beatas, churrasqueiras, máquinas agrícolas, linhas elétricas mal mantidas…), mas também o uso intencional do fogo. A chamada “cultura do fogo” no mundo rural, usada historicamente para regenerar pastagens, continua a aumentar o risco de sinistralidade.
Como evitar os incêndios florestais
Perante um problema complexo e multifacetado, não existem respostas simples. Não há fórmulas mágicas, mas há soluções comprovadas que reduzem os riscos.
As principais medidas são:
- Reduzir emissões: abandonar os combustíveis fósseis e responsabilizar as grandes empresas poluidoras.
- Reforçar o setor florestal ligado ao território: apoiar a atividade económica rural para fixar população e, em simultâneo, gerir o território com visão preventiva e de adaptação ao novo cenário climático.
- Gestão agro-silvo-pastoril: não se trata de “limpar o mato” mas de geri-lo com atividades como a pastorícia extensiva, desbaste de matos, queimadas controladas, gestão florestal profissional e utilização de biomassa local para energia a pequena escala.
- Planeamento urbanístico responsável: evitar construção em zonas de alto risco e o uso de espécies altamente inflamáveis em jardins.
- Cultura preventiva e de autoproteção: formar populações rurais e urbanas sobre como prevenir e reagir.
- Mais recursos públicos na prevenção: a prevenção não pode limitar-se ao verão. São necessários meios permanentes, ao longo de todo o ano.
Conclusão
Os incêndios florestais são hoje o sinal mais extremo e doloroso de como a crise climática devasta o território, tornando-se num problema estrutural.
A única saída clara é esta: gestão do território, redução de emissões e assumir a prevenção como prioridade política.