Entrada de blog por Catarina Canelas - Novembro 26, 2025


Químicos perigosos e produção tóxica: porque precisamos de travar a Shein

Nos dias que correm, é cada vez mais comum a procura de soluções rápidas, baratas e que exijam apenas algum esforço. Mas essa combinação aparentemente inocente tem um custo real e elevado para a nossa saúde e para o planeta. Um dos exemplos mais evidentes deste problema é a Shein, a gigante da ultra fast fashion, que transformou a produção têxtil num modelo industrial acelerado, descartável e profundamente poluente.

A investigação mais recente da Greenpeace analisou 56 peças compradas na Shein em oito países, incluindo Portugal, e os resultados são preocupantes: quase um terço das peças apresentavam substâncias químicas perigosas acima dos limites definidos pelo Regulamento REACH da União Europeia. Entre estas substâncias encontravam-se PFAS, conhecidas como “químicos eternos” devido à sua persistência no ambiente, e ftalatos, frequentemente usados como plastificantes e associados a riscos graves para a saúde humana. Em alguns casos, os níveis encontrados são chocantes: sete casacos ultrapassaram os limites legais de PFAS até 3 mil e 300 vezes e um par de sapatos infantis encomendados em Portugal apresentava níveis de ftalatos 55 vezes acima do permitido.


Mas o que é a fast fashion e a ultra fast fashion?

Para compreender como isto acontece, é preciso olhar para o próprio modelo de negócio da fast fashion e, sobretudo, da sua versão mais extrema, a ultra fast fashion. Se marcas como a Zara ou a H&M já lançam coleções semanalmente, empresas como a Shein e a Temu levam essa lógica ao limite ao apresentarem, diariamente, milhares de novos modelos (em alguns dias chegando às 10 mil peças novas). 

O impacto escondido no preço final

O suposto “preço baixo” de cada peça é, na verdade, um custo mascarado. O que não se paga no momento da compra, paga-se noutras frentes: 

  • Na saúde de quem utiliza estas roupas, exposto a químicos nocivos (sobretudo através das lavagens e suor), com destaque para os potenciais problemas de desenvolvimento infantil, riscos para a fertilidade, enfraquecimento do sistema imunitário, efeitos no fígado e rins, entre outros.
  • Nas condições de vida de trabalhadores que produzem estas peças em fábricas frequentemente localizadas no Sul Global e sem proteção adequada.
  • No impacto ambiental devastador que acompanha a produção e o descarte desta moda descartável. 
  • Muitos dos químicos encontrados são persistentes e permanecem no ambiente durante décadas ou séculos, acumulando-se na água, no solo, nos organismos vivos e, inevitavelmente, regressam ao nosso corpo através da cadeia alimentar.

Além disso, a indústria do vestuário, impulsionada pela lógica da fast fashion, representa cerca de 10% das emissões globais de gases com efeito de estufa e é responsável por grande parte da contaminação da água doce. O excesso de produção e o estímulo constante ao consumo ( reforçados por campanhas agressivas como Black Friday, temporizadores e promoções relâmpago) fazem com que toneladas de roupa acabem todos os dias em aterros ou incineradoras, muitas vezes ainda com etiqueta.

A Shein consegue ainda contornar parte dos controlos aduaneiros ao enviar encomendas pequenas diretamente ao consumidor, reduzindo a fiscalização e facilitando a entrada no mercado europeu de produtos que não cumpririam as normas, se fossem importados em lotes maiores. A conclusão é simples: é insustentável.


Que alternativas existem?

Apesar de tudo isto, existem alternativas ao nosso alcance. A fast fashion nunca poderá ser sustentável e a ultra fast fashion muito menos. Mas é possível reduzir o impacto optando por comprar menos e comprar melhor, escolhendo peças de maior qualidade e durabilidade, recorrendo à reparação, ao aluguer, à troca e ao mercado de segunda mão. No entanto, escolhas individuais não bastam! É necessária uma resposta política firme.

A posição da Greenpeace

Apelamos a que as autoridades portuguesas sigam o exemplo de França e criem uma lei “anti moda rápida” que coloque um travão à produção excessiva e ao consumo descontrolado. Uma lei que imponha um imposto específico sobre a ultra fast fashion e que restrinja a sua publicidade, sobretudo nas redes sociais, onde mais influencia jovens consumidores, e que garanta que todas as peças vendidas em Portugal cumprem rigorosamente o Regulamento REACH, sem exceções para plataformas online.

A mudança é urgente. E começa contigo. Junta o teu nome à nossa petição e ajuda-nos a exigir que o Governo português faça parte da solução.

Ana Farias Fonseca, Coordenadora de Campanhas e Mobilização da Greenpeace Portugal

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