Consegues imaginar um mundo sem abelhas?
Luís Ferreirim, Especialista e Responsável da Campanha de Pecuária da Greenpeace
Eu não. Seria, de certeza, um mundo mais triste, menos colorido e com muita menos diversidade.
Hoje é o Dia Mundial das Abelhas e oxalá pudéssemos estar a celebrar que elas não estão em perigo. Que podem voar livremente, sem terem de enfrentar perigos invisíveis. Perigos que nós, os seres humanos, estamos a criar para elas. Infelizmente, ainda não é assim, mas, estou convencido, que um dia será. Na Europa, uma de cada dez espécies de abelhas está em perigo de extinção.
Infelizmente, enfrentam demasiadas ameaças. Pesticidas, perda de habitat, monoculturas, pragas e doenças, com as alterações climáticas a agravar cada vez mais todos os outros perigos que enfrentam. Defrontam-se com uma autêntica bomba-relógio. Ou, como disse uma grande investigadora – Marla Spivak -, “As abelhas estão a alcançar um ponto crítico porque esperamos que cumpram a sua função num mundo cada vez mais inóspito.”
Nesta época do ano, quando os dias estão a ficar mais longos e as temperaturas mais amenas, adoramos aproveitar o tempo livre em contacto com a natureza, sentir o perfume e a beleza das flores e outras plantas e comer as deliciosas frutas e vegetais que, depois do inverno, começam a diversificar-se. E, se isto é possível, é, sem dúvida, graças às abelhas e outros polinizadores.
Para entenderes melhor a importância das abelhas e o resto de polinizadores, devo dizer-te que, um terço dos nossos alimentos a nível mundial e, em peso, depende diretamente da polinização feita por estes insetos.
Só na Europa, mais de 4.000 tipos de frutas e vegetais que levamos à mesa todos os dias, dependem das abelhas. 84% das culturas da União Europeia dependem, em maior ou menor grau, desses maravilhosos insetos! O valor deste serviço, que os polinizadores fornecem gratuitamente em todo o mundo, é estimado em cerca de 265 mil milhões de euros por ano, dos quais 22 mil milhões na UE. Também 90% das espécies de plantas com flor, dependem da polinização. Neste caso, o valor económico é incalculável.
Mas todas essas ameaças, especialmente os inseticidas – estão desenhados para matar insetos (e as abelhas são insetos) – representam um grande risco para a sua sobrevivência. Somos conscientes de este perigo e também dos responsáveis políticos. Tanto é assim – e depois de muitas campanhas para salvar as abelhas – que a UE concordou em reduzir o seu uso em 50% até 2030. Mas os poderosos grupos de pressão, que têm como único objetivo continuar a enriquecer-se, conseguiram que este objetivo tenha sido guardado numa gaveta.
O bem comum, a vida na Terra tal como a conhecemos, não lhes importa nada. Absolutamente nada. Parece que não se apercebem que são os seus próprios negócios que também estão em risco.
Na Greenpeace não baixamos os braços; nunca. Continuaremos a trabalhar para conter a emergência climática e a perda de biodiversidade. E isto não será possível sem uma transformação profunda do destrutivo modelo de agricultura industrial, promovendo a transição urgente para a agroecologia. A comunidade científica já disse alto e em bom som que devemos atuar em todos os setores, porque de outra forma não vamos ser capazes de reverter as múltiplas crises que estamos a viver. É urgente e mais que necessário.
Ajuda-nos a continuar a defender as abelhas e outros polinizadores e a proteger toda a biodiversidade do planeta. Contigo podemos ser mais fortes e chegar mais longe.