Entrada de blog por Catarina Canelas - Julho 10, 2025


QUEM FOI FERNANDO PEREIRA?

Fernando Pereira integrou a tripulação do Rainbow Warrior com a missão de fotografar e dar a conhecer ao mundo os testes nucleares franceses no Pacífico. Quando agentes secretos bombardearam o navio, tiraram-lhe a vida. Mataram Fernando Pereira — um homem que dedicou a sua vida à paz.

Um fotógrafo determinado, um homem de família, um guerreiro do arco-íris — será para sempre recordado.

O atentado

O ataque aconteceu pouco antes da meia-noite de 10 de julho de 1985. Duas explosões separadas perfuraram o casco do Rainbow Warrior. A segunda explosão atingiu Fernando Pereira, que estava no interior do navio, deixando-o inconsciente. O navio afundou-se rapidamente. Fernando não conseguiu sair. Morreu afogado.

Fernando Pereira (1950–1985)

Fernando nasceu em Chaves, no norte de Portugal. Em jovem, fugiu para Espanha para não ser recrutado pelo exército e obrigado a combater na guerra colonial de Salazar em Angola. Mas Espanha também não era um refúgio seguro para refugiados políticos naquela época. Caminhou centenas de quilómetros, percorreu estradas a pedir boleia até chegar aos Países Baixos – e foi aí que decidiu ficar. Casou com uma holandesa, teve dois filhos e dedicou-se à sua paixão: a fotografia.

Em 1985, era fotógrafo freelancer da Greenpeace e embarcou no Rainbow Warrior para uma viagem de seis meses pelo Pacífico. Integrava a missão de evacuar a população do Atol de Rongelap, nas Ilhas Marshall, gravemente contaminada pela radioatividade após os testes nucleares norte-americanos. As fotografias que tirou dessa evacuação comoveram o mundo e mostraram o seu enorme profissionalismo.

Fernando era muito mais do que fotógrafo. Era um membro querido da tripulação, um homem cheio de vida, convicção e coragem. Tinha uma paixão profunda pelas causas em que acreditava. Se não tivesse sido assassinado, teria documentado os protestos contra os testes nucleares em Mururoa.

As últimas palavras

Três meses antes do atentado, despediu-se dos dois filhos, Marelle e Paul, na Holanda. Marelle, então com oito anos, recorda:

“Ele disse: ‘Cuida da tua mãe. Eu vou fazer a viagem e volto depressa’.”

Depois da partida, Marelle ia com o irmão à floresta e acenava a todos os aviões, com a esperança de que um deles trouxesse o pai de volta.

Meses depois, em pleno verão, Marelle estava num acampamento. Uma professora chamou-a, com a mãe ao lado, e disse-lhe que tinha algo a contar. Marelle descreve o momento:

“Senti logo que algo não estava bem com o meu pai. Tinha de ser. A minha mãe só podia estar ali por causa disso. Quando me disseram que ele estava desaparecido, todas as peças se encaixaram. Chorámos juntas. Fomos para casa. E dias depois, recebemos a notícia que mais temíamos: o corpo do meu pai tinha sido encontrado sem vida.”

O legado de Fernando

A vida de Marelle e Paul mudou para sempre. Cresceram sem o pai que tanto amavam. O governo francês acabou por pagar uma compensação à família, mas nem todos os responsáveis pelo crime foram levados à justiça.

Vinte anos depois, Marelle desabafou:

“Quero justiça. Justiça para nós. Para a nossa família. Se contarem a verdade, isso pode ser o princípio. Se justiça é prometer punição ao mais alto nível e depois deixar que tantos agentes escapem à prisão, então isso não é justiça — nem para nós, nem para o mundo. E nunca é tarde para fazer justiça.”

Uma homenagem eterna

A 10 de julho de 2010, no 25.º aniversário da morte de Fernando Pereira, foi depositada uma coroa de flores em sua memória.

Peter Willcox, o capitão do Rainbow Warrior na noite do atentado, deixou-lhe estas palavras:

“Fernando não tinha de morrer. Nunca o vamos esquecer.

Espero que as futuras gerações de ativistas que naveguem no novo navio sejam tão determinadas, extraordinárias e inspiradoras como ele foi.”

A memória de Fernando continua a inspirar todos os que lutam por um futuro mais verde e mais pacífico.Em 1995, o Rainbow Warrior II liderava um novo protesto contra testes nucleares em Moruroa. O navio foi invadido por comandos franceses. Quando os ativistas foram interrogados, deram todos o mesmo nome: Fernando Pereira

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